quarta-feira, 16 de junho de 2010

Ficção




Era fim de noite, a festa as vésperas do término e o sol prestes a surgir. Havia saído para pegar um pouco de água para hidratar dois corpos após muita diversão e bebidas. Ao retornar, em meio a jogos de luzes e uma batida de partir o coração, você estava a beijar outro cara. De biótipo escultural e sorriso arrasador, você parecia presa aquele encanto, e eu, ao longe apenas observava lamentando pela minha provável incompetência em te fazer completa.
Após um longo beijo, você parou para analisar que estava em companhia de outro alguém e rapidamente utilizou uma de suas especialidades, uma desculpa única para afastar a mais nova companhia, que por sinal não fez questão em procurar argumentar para ficar. Até porque, era fim de noite e para ele o objetivo havia sido alcançado.
Perplexa, olhou para o lado e me viu sentado a observar com uma face inexpressiva. Aproximou-se e sentou ao meu lado pronta para argumentar várias justificativas, mas, antes que começasse eu encostei a ponta dos dedos carinhosamente sobre sua face e com um sorriso lhe disse:
- Não precisa explicar-se. Eu jamais tive a pretensão de prendê-la a mim, muito menos de impor limites e dizer o que deve ou não fazer. Não posso agora demonstrar uma felicidade inexistente em mim, talvez uma inveja por não ser a parte que te completasse nessa noite, nesse momento.
Enquanto falava vagarosamente, mantinha os olhos fechados, as testas encostadas, leves toques com a mão a cariciar a sua face, que por um breve momento ameaçou o rolar de uma lágrima. Rapidamente interrompi o seu trajeto antes que pudesse percorrer um caminho maior.
- Arianos não choram, lembra? Disse carinhosamente com um sorriso no rosto.
- Poderia ficar aqui a jogar inúmeras palavras ao vento que te tocariam neste instante, mas, que certamente se perderiam com o tempo. Eu também nunca fui muito hábil com explicações e justificativas. Então, prefiro tentar dizer o que quero de outra forma. Disse quase como um sussurro ao seu ouvido.
E percorrendo levemente com meus dedos a sua face, vagarosamente fiz todo o contorno de seus lábios, me aproximando lentamente toquei-os com os meus. Um beijo lento, apaixonado que só queria dizer o que as palavras certamente não conseguiriam. Permiti naquele instante que nossos lábios servissem de ponte para atravessar todo meu sentimento, mediante aquele simples gesto.
O sol havia surgido e um de seus raios atravessado uma fresta ao alto que conduzia-se diretamente a nós. Naquele clarear pude olhar sua face mais linda que nuca, ou seria eu mais vulnerável e apaixonado?
Em todo caso, tinha comigo um beija-flor e não poderia sufocá-lo, muito menos trancafiá-lo em uma gaiola, pois sei que cedo ou tarde se sentiria infeliz e desejaria voar novamente. Mas sei que poderia oferecer carinho e proteção, mostrar que estaria livre pra voar se assim quisesse e que poderia levar-me ao seu lado. Pois eu não queria impor grades, e sim a liberdade de escolher e enxergar onde ficaria melhor, onde seria mais feliz.


Shell

Um comentário:

  1. linda a história, rica de detalhes e argumentos, por um momento me senti nela, me senti ela. ta de parabens, shell

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