domingo, 5 de dezembro de 2010

Monólogo de um coração solitário



E hoje, a noite por pena faz companhia a minha sinuosa solidão, escondendo-lhe as estrelas e uma possível felicidade. Isto porque, hoje não quero festas, nem alegrias, apenas lamentar-me por minha notável falta de talento nas artimanhas do amor, por minha evidente capacidade e disposição na arte do medo, da fuga, da incapacidade de retratar-me e encarar os desafios do coração. (Provo tais afirmações nestas linhas, onde não encontrei as palavras para dizer-te, mas sim onde busco o sentido para expressar-me.)
Estas nuvens que hoje enchem de incertezas a noite, são as mesmas que assolam o meu coração. Na clausura de encontrar as palavras certas a dizer-te, que, eu lamento, mas que tudo, eu lamento. Infelizmente já é tarde, a ferida que causei em teu peito é profunda demais. Sem previsões de melhora. Definida como um pressuposto estado de coma, dependendo apenas de ti para reagir. Enquanto isso, a mim resta apenas condenar-me por teu estado. Felizmente não podes ver-me a depreciar-me tanto, felizmente a minha angústia guardo apenas comigo, e sem que possas saber, sofro calado pelo mal que lhe fiz.
E pensar que isto tudo por ter tido em minhas mãos aquilo que tanto desejei ter. Isso tudo por ter tido a felicidade e o sincronismo de um coração apaixonado a bater junto ao meu. Estúpido e lastimável ser que tornei-me, cabisbaixo e mundano de lamentações. Custei a acreditar que era a felicidade que me oferecias de peito aberto. Sem proteções entregas-te corpo e alma, e eu atônito ao medo, deixei-te cair e machucar-te por inteira.
Agora vejo-te presa nesta cama, presa a uma jogatina do amor de repercussão miseravelmente cruel, que mesmo não sendo intencional, ainda sim não sobressai de meus ombros a responsabilidade e a culpa, por tua compreensível falta de credibilidade em meus sentimentos desde então. Mas não julgo-te, tens todo direito de acusar-me por suas cicatrizes e mágoas. Apedreje-me! Só querias a minha felicidade, e encontra partida, apenas ocasionei-te a dor.
No entanto querida, não sairei do encalço desta cama onde dormes o repouso dos decepcionados. Não desistirei de cuidar de ti, mesmo que a distância, mesmo que nem saibas que continuo a te observar. O irônico é que hoje és tudo que mais quero, e hoje, és tu quem decides querer ou não a companhia de um renegado coração. E como fazê-lo, se tens diante de ti, alguém que só te trouxe mágoa, que só arrancou-te lágrimas?
Não peço-te que confies em mim novamente, seria pedir demais. Apenas deixe-me, mesmo que de longe, fazer parte da tua vida e mostrar-te que em minha falta de expressão e explicações, posso ser a companhia que precisas.

O que anseio hoje, apenas os teus lábios e o teu corpo podem me dar, mas infelizmente não tenho mais o direito de pedir-lhes tais comprometimentos. Na clausura desta noite enevoada, apenas desejo as estrelas, como quem deseja ter de volta um brilho de felicidade e perdão em seu coração, hoje tão solitário, sem o teu...


Shell

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