quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Crônica 02 de dezembro




Parecia uma manhã como outra qualquer. Apenas aparência normal ela tinha. Aguardava ansiosamente por essa data, enfim um dos poucos dias em que amanheci cheio de expectativa e esperança, antes não tivesse.
Já dizia o poeta “a expectativa é a mãe da decepção” e eu mais que ninguém era a prova viva de tal assertiva. Mas por hora me permiti ser incrédulo nesta verdade, só por hoje me permiti acreditar, só por hoje enxerguei apenas o lado positivo, só por hoje.
O dia foi-se em uma velocidade descomunal e enfim a hora do tal resultado que tanto aguardava aproximava-se. Fui ao local previsto para receber a notícia. Na roda de amigos, brincávamos com possibilidades negativas enquanto aguardávamos, mas éramos todos de uma confiança incomum, que tais brincadeiras não surtiam efeito.
A hora chegou, o resultado no mural. A euforia era tanta que as mãos tremiam esperançosas por notícias boas. O sorriso largo estendeu-se pela face dos quatro, todos os nomes presentes, os sorrisos eram visíveis. Mas ao longe alguém avistou a frase que enterraria toda alegria. Todos os inscritos, em todas as áreas não obtiveram êxito. A decepção era evidente no semblante de todos, após alguns segundos de silêncio e assimilação do fato ocorrido, o sentimento de surpresa e revolta compartilhou-se com todos, inutilmente.
Após horas de incredulidade e consternação coletiva, de busca por resposta para tal desempenho, geral, vergonhoso- afinal, dedicamo-nos corpo e alma, acreditamos até o fim (eu tive esperança, sonhei), mas no final o resultado foi o mesmo, sempre o mesmo. O destino zomba mais uma vez do meu esforço, das minhas olheiras, das noites em claro (onde muitos acham que eu nada tenho a fazer), talvez zombe mais ainda da minha esperança, do sorriso confiante que ousei demonstrar- depois de tentarmos buscar respostas uns com os outros, nos despedimos e fomos a procura delas por conta própria.
Um lixo, era como sentia-me, não mais pelo resultado em si, talvez já até estivesse buscando a conformidade, mas pela expectativa que criei. Vagando em ônibus, com meus olhos opacos, refugiados em meu universo, perplexo-frustrado-paralelo. Ao lado do amigo que desabafava, em forma de raiva, para sentir-se melhor, fomos seguindo em nosso caminho. Ele por sua vez, resolveu buscar consolo nos braços da namorada, eu disse “ate”. Continuei dali, sozinho.
O telefone tocou em meu bolso, já imaginava que naquele instante haveria de ser uma boa notícia. Era um numero confidencial. A sensação de que não poderia piorar foi estilhaçada ao ouvir acusações, desaforos e rancor. Fui julgado e condenado sem direito de defesa, como um golpe de misericórdia, uma faca transpassando em minha alma. Em momento algum perguntou o “porque”, em momento algum pediu minha explicação. Não... Não, apenas me acusou, me julgou e me condenou. De lixo que sentia-me desci alguns degraus, onde a definição já não consigo externar.
Ela disse tudo que tinha a dizer e desligou. Eu apenas, “oi”, respondi ao atender e permaneci calado enquanto era acusado. (Ainda faltava para chegar em minha casa, eu sei que deveria ter ligado e reconheço isso. Me sentindo “podre”, vaguei pela noite até chegar em casa, ainda sem anexar totalmente tantas sensações ruins.) E eu que esperava, assim como meu amigo, buscar consolo nos braços de quem gosto (esperava chegar mais próximo de casa para ligar e contar o ocorrido, mas meu erro mais uma vez foi esperar demais.).
Em casa deitado escutei o soar da campainha, por um breve momento imaginei ser... Não, não poderia... E novamente estava errado, era ela, um sorriso involuntário arrancou de minha face automaticamente com a sua presença, mas ela ali não estava para oferecer-me carinho, apenas foi certificar-se que a estaca estava bem cravada e que me “mataria” realmente.
Disse-me tudo que tinha e o que não tinha para dizer. Julgou-me novamente sem me dar direito de resposta. Duvidou do meu caráter, algo que tanto prezo e zelo para manter inquestionável, mas eu nada disse, pois em momento algum ela desejou saber (talvez dissesse tudo aquilo por me conhecer pouco, ou por não me conhecer de fato, pois em outros contextos estou certo que jamais duvidaria de mim). Impulsiva- Explosiva, apenas me disse o que sentia, estava ofendida e decepcionada. E talvez sem se dar conta afastou de si um sentimento sincero que florescia em mim. Uma rosa que desabrochava em um jardim morto e amargurado.
Ela se foi após dizer-me tudo que sentia, e eu continuei calado. Em silêncio a minha alma sofria uma das maiores decepções do dia, e a situação ensinava-me pela enezima vez a não criar expectativas, a ser realista, a ter os pés nos chão. A sempre duvidar de minha estranha felicidade.



O contexto fiel das situações relatadas não pode ser circunscrito neste texto, pois vai além da compreensão de terceiros. Esta é apenas uma forma de desabafar a angustia que sinto, de talvez falar o que segurei em meu silêncio.




Toda historia vivida por duas ou mais pessoas, sempre possuirá duas ou mais versões.


Shell

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